5 de maio de 2012

Angústia de estar fora

"Quem sabe se o conto de Sophia não poderia ter tido um final feliz. Bastava que o casal não fosse de turistas que passam à procura, mas sim de viajantes que se deixam perder. Este homem e esta mulher trazem em si o peso de todos os sedentários do mundo e por isso recusam entregar-se a essa energia mística e a essa fé pagã de "A Viagem" que só um nómada saberia interpretar. Tudo na Natureza inspira serenidade e confiança: a água da fonte, a brisa dos pinheiros, as maçãs polidas e redondas, o rumor da terra sob o Sol, o ar verde e doirado. "Se não estivéssemos perdidos, esta caminhada seria uma viagem maravilhosa", diz o homem. O sedentário está perdido porque tem um destino que não encontra. O nómada não procura, encontra-se no próprio acto de viajar. É essa a diferença entre o turista e o viajante, é esse o sentido de Ítaca, é essa a riqueza de cada viagem."

Gonçalo Cadilhe, excerto da crónica 
"Angústia de estar fora" in 1 Km de cada vez

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