27 de setembro de 2012

O Contrário do Amor

"Há quem diga que o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença. Costuma haver uma reverência silenciosa em volta da expressão, como se tivesse poderes terapêuticos mágicos. É melhor ser odiada do que ignorada por aquela mal-humorada ex do nosso namorado. Na generalidade, é sempre melhor ser-se odiado do que ignorado. Ou podemos passar a vida obcecados com o contrário do amor.
Mas eu acho que é tudo uma treta. Um disparate escrito em papel de cozinha. Uma frase feita bordada na almofada. Será que a indiferença pode mesmo ser pior do que o ódio? Não é deprimente pensar que podemos passar a maior parte do tempo rodeados por pessoas que sentem por nós algo pior do que ódio?

(...)

É isto o contrário do amor, apercebo-me eu, quando olho para o sofá vazio, quando vejo através dos meus companheiros imaginários. O contrário do amor não é o ódio; nem sequer a indiferença. É uma merda de um estripamento. É haraquiri. É pegar numa enorme pá e arrancar o próprio coração, as próprias vísceras, até não restar nada.
Nada que possamos dar, nada, até que possamos receber. Nada para além de um sopro de vida e umas quantas telenovelas para nos entreter. Se o amor é entregarmo-nos de alma e coração, então isto, meu amigo, isto - estriparmo-nos a nós próprios - é o seu contrário.
Quem me dera saber coser, para poder bordar isto num raio de uma almofada.

(...)

E conquistar o amor dá uma grande trabalheira. Não sei se tenho energia para isso."

Julie  Buxbaum,
O Contrário do Amor

3 comentários:

  1. " É haraquiri. É pegar numa enorme pá e arrancar o próprio coração, as próprias vísceras, até não restar nada." Soberbo... está tudo dito :) *

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  2. O contrário do amor é o "vazio"! Mais nada!

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